Todos nós precisamos de ciclos para organizar a vida. Por meio do ciclo diário, fazemos nossa agenda e estabelecemos o horário de trabalho, descanso e lazer. O mesmo vale para as semanas, meses e anos. Conforme disse o sábio: "O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol." (Eclesiastes 1.9). O enredo se repete com atores diferentes. Desde que se tem notícia, o ser humano sempre passou por crises econômicas e políticas, pandemias (ou epidemias), revoluções, guerras, etc. O mesmo pode ser dito a respeito da natureza humana. Desde o início o ser humano sabe o que é rir, chorar, casar-se, ter filhos, trair, odiar, perdoar, morrer.
A primeira reflexão que podemos tirar disso é que a história nos traz muitos ensinamentos práticos. Questões importantes, como direitos das mulheres e abolição da escravatura remontam à antiguidade. Nós não estamos iniciando um debate novo sobre praticamente nenhum tema. Estamos entrando em uma conversa que está em andamento faz séculos e, sem nos inteirarmos do que já foi dito, estaremos "pegando o bonde andando", e provavelmente cometeremos os mesmos erros dos nossos antepassados.
A segunda reflexão é que, se nossa vida for somente mais uma peça dessa máquina e mais uma rotação no relógio do espaço-tempo, nada do que fazemos tem sentido.
Como disse C. S. Lewis, "tudo o que não é eterno é eternamente inútil". Por mais que o momento seja "infinito enquanto dure", que a vida seja recheada de prazeres e nada nos seja negado pela fortuna. Somos somente pó que volta ao pó. Após entrarmos na escuridão do desconhecido, todas as desigualdades se vão e todos estaremos privados daquilo pelo que tanto lutamos e nos preocupamos em vida.
Contudo, a boa nova é que, para nos tirar de uma vida miserável (sem sentido), o próprio Deus, que criou o tempo e que não é afetado pelos seus ciclos, invadiu o espaço-tempo (como diria Francis Schaeffer) para nos salvar. O Natal é precisamente o eterno e infinito entrando no efêmero e finito. São as mãos que criaram os céus segurando o dedo de Maria na estrebaria.
Como disse G. K. Chesterton, nunca nos cansamos de celebrar esse evento porque, ainda 2 mil anos depois, continua a nos espantar que o Deus eterno tenha assumido a forma de um bebê, que o criador tenha entrado no palco da criação de modo voluntário para encher nossa vida de sentido. Essa é a única base racional para a nossa esperança e a única forma de sermos unidos novamente à vida eterna. Um feliz Natal a todos nós!
Texto: Bruno Chaves
Engenheiro civil e líder da Mocidade para Cristo no Brasil (MPC) em Santa Maria